Resumo
O concreto é um dos materiais mais utilizados na engenharia civil devido à sua elevada resistência à compressão, durabilidade e versatilidade. No entanto, a presença de fissuras é uma preocupação recorrente, podendo afetar a estética, a durabilidade e, em casos extremos, a segurança estrutural. Este artigo explora a inevitabilidade da fissuração no concreto, os mecanismos de fissuração, os fatores que influenciam sua ocorrência e os critérios normativos para controle, abordando diretrizes da NBR 6118:2014, NBR 14931:2022, NBR 12655:2015 e outras referências bibliográficas especializadas.
1. Introdução
A fissuração no concreto é um fenômeno amplamente estudado e, em grande parte dos casos, inevitável. Devido à natureza do material e às condições impostas durante sua fabricação e utilização, o concreto pode apresentar fissuras desde sua fase plástica até a idade avançada da estrutura. No entanto, nem toda fissura compromete a segurança ou a durabilidade da estrutura.
O controle da fissuração é essencial para garantir a longevidade da edificação e prevenir manifestações patológicas severas, como corrosão das armaduras e infiltrações. As normas técnicas brasileiras estabelecem limites aceitáveis para abertura de fissuras e métodos de controle que devem ser adotados desde a concepção do projeto até a execução e manutenção da estrutura.

Fonte: acervo técnico Engenheira Marília Araújo, coordenadora da pós graduação em patologia e manutenção das construções do instituto nova engenharia
2. A Fissuração é Inevitável?
Todo concreto fissura, mas as fissuras consideradas normais e esperadas são as microfissuras, geralmente imperceptíveis a olho nu. O surgimento de fissuras pode ocorrer por diversos motivos, porém nem toda fissura representa um problema crítico. Muitas delas podem ser previstas e controladas sem comprometer a funcionalidade da estrutura.
As principais causas para o aparecimento de fissuras são:
2.1. Tensões Induzidas pela Retração
A retração ocorre devido à perda de umidade do concreto fresco ou endurecido, gerando tensões internas que podem resultar em fissuras. Os principais tipos de retração incluem:
- Retração plástica: ocorre nas primeiras horas após a concretagem devido à evaporação rápida da água. É comum em concretagens expostas ao vento e alta temperatura.
- Retração hidráulica: ocorre após a cura inicial, devido à evaporação de água dos poros capilares do concreto.
- Retração autógena: ocorre sem perda de umidade para o ambiente, causada pelo consumo de água pelas reações de hidratação do cimento.
- Retração térmica: ocorre devido às variações de temperatura, principalmente em concretos de grande volume.
2.2. Fissuração por Esforços Mecânicos
Quando submetido a esforços superiores à sua capacidade resistente, o concreto pode fissurar. Esse tipo de fissuração pode ser causado por:
- Carga excessiva: quando o concreto é solicitado além de sua capacidade de resistência à tração e cisalhamento.
- Flexão: vigas e lajes são elementos frequentemente sujeitos a fissuras por flexão.
- Punção: ocorre em lajes apoiadas sobre pilares devido a cargas concentradas.
2.3. Fissuração por Reações Químicas
Reações químicas podem gerar tensões internas e provocar fissuração no concreto, sendo as principais:
- Reação álcali-agregado (RAA): expansão causada pela reação química entre os álcalis do cimento e certos agregados reativos.
- Ataque por sulfatos: deterioração do concreto causada pela reação entre sulfatos e aluminatos presentes na pasta de cimento.
- Carbonatação: redução do pH do concreto devido à absorção de CO₂ do ambiente, o que pode levar à corrosão das armaduras e fissuração.
2.4. Fissuração por Problemas Executivos
A execução inadequada do concreto pode resultar em fissuração precoce. Entre os problemas mais comuns estão:
- Cura insuficiente: a NBR 14931:2022 recomenda um período mínimo de cura úmida para reduzir a retração plástica.
- Falta de controle da temperatura: concretagens em climas muito quentes ou frios podem resultar em fissuras térmicas.
- Falhas na compactação: pode gerar zonas porosas que reduzem a resistência e aumentam a suscetibilidade à fissuração.
3. Como Controlar a Fissuração no Concreto?
Embora o concreto tenha tendência natural à fissuração, há diversos métodos para minimizar sua ocorrência e impacto.
3.1. Controle da Dosagem e Composição
A NBR 12655:2015 estabelece diretrizes para a produção de concretos duráveis e com menor tendência à fissuração. Algumas boas práticas incluem:
- Reduzir a relação água/cimento para minimizar a porosidade.
- Uso de adições minerais, como sílica ativa e metacaulim, para melhorar a compacidade.
- Emprego de agregados graúdos bem graduados para reduzir a retração.
3.2. Projeto Estrutural Adequado
A NBR 6118:2014 estabelece critérios para controle de fissuração em estruturas de concreto armado, incluindo:
- Limite de abertura de fissuras: varia de acordo com a agressividade do ambiente. Em ambientes normais, a abertura máxima recomendada é 0,3 mm. Em ambientes agressivos (como regiões marítimas), o limite é 0,2 mm.
- Posicionamento correto das armaduras: garantir espaçamentos adequados e recobrimento mínimo.
- Uso de armadura de distribuição: minimiza a formação de fissuras em lajes e paredes.
3.3. Controle da Cura
A cura adequada é um dos fatores mais importantes para evitar a fissuração precoce. A NBR 14931:2022 recomenda métodos de cura como:
- Cura úmida: manter a superfície do concreto umedecida por no mínimo 7 dias.
- Uso de membranas de cura química: aplicadas para reduzir a evaporação da água.
- Proteção contra vento e insolação excessiva, evitando retração plástica.
3.4. Juntas de Controle e Expansão
As juntas de dilatação e controle são fundamentais para permitir movimentações naturais da estrutura sem gerar tensões excessivas. A NBR 15306:2018 estabelece critérios para o dimensionamento e posicionamento dessas juntas.
4. Normas Técnicas Aplicáveis
O controle da fissuração deve seguir diretrizes normativas que garantem a qualidade e durabilidade das estruturas:
- NBR 6118:2014 – Projeto de estruturas de concreto: estabelece limites de fissuração e recobrimentos mínimos.
- NBR 14931:2022 – Execução de estruturas de concreto: diretrizes para cura, fôrmas e desforma.
- NBR 12655:2015 – Preparo, controle e recebimento do concreto: critérios para composição do concreto.
- NBR 9452:2016 – Inspeção de estruturas de concreto: procedimentos para avaliação da integridade estrutural.
- NBR 15306:2018 – Juntas de dilatação: estabelece critérios para controle da movimentação estrutural.
5. Conclusão
A fissuração do concreto é um fenômeno natural e, em muitos casos, inevitável. No entanto, o controle adequado da dosagem, da execução e da manutenção pode minimizar sua ocorrência e impacto. A adoção de práticas como o uso de armaduras distribuídas, controle da retração e cura eficiente é essencial para garantir estruturas duráveis e seguras.
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Referências Bibliográficas
- ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT).
- NBR 6118:2014 – Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
- NBR 14931:2022 – Execução de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2022.
- NBR 12655:2015 – Concreto de Cimento Portland – Preparo, Controle e Recebimento – Procedimento. Rio de Janeiro, 2015.
- NBR 15306:2018 – Juntas de Dilatação e Controle – Procedimento. Rio de Janeiro, 2018.
- NBR 9452:2016 – Inspeção de Estruturas de Concreto – Procedimento. Rio de Janeiro, 2016.
- NBR 5674:2012 – Manutenção de Edificações – Procedimento. Rio de Janeiro, 2012.
- HELENE, P. Manual de Corrosão em Estruturas de Concreto Armado. São Paulo: PINI, 1993.
- MEHTA, P. K.; MONTEIRO, P. J. M. Concreto: Microestrutura, Propriedades e Materiais. São Paulo: IBRACON, 2014.
- NEVILLE, A. M. Propriedades do Concreto. São Paulo: Pini, 2016.
- FUSCO, P. B. Estruturas de Concreto: Fundamentos da Engenharia de Estruturas de Concreto Armado. São Paulo: Blucher, 2015.
- ISAIA, G. C. Concreto: Ciência e Tecnologia. São Paulo: IBRACON, 2011.
- BAUER, L. A. Materiais de Construção. São Paulo: LTC, 2012.
- TUTIKIAN, B. F. Dosagem de Concretos de Cimento Portland. São Paulo: Blucher, 2018.